II Encontro com a Juventude fomenta debate sobre lutas por terra e território
- aatrba
- há 7 dias
- 5 min de leitura
Evento possibilitou ainda intercâmbio entre jovens de Escolas Famílias Agrícolas de regiões da Bahia

“Juventude Camponesa em marcha segue a lutar. Por terra, pão e dignidade, na
construção do Projeto Popular!” Pastoral da Juventude Rural (PJR).
A juventude camponesa atendeu ao chamado e mais uma vez se reuniu para trocar saberes, inquietações e planejar ações de intervenção em suas realidades no II Encontro com a Juventude Camponesa. Realizado pela AATR entre os dias 21 e 23 de março, no município de Valente, o encontro contou mais de uma centena de jovens de 13 Escolas Família Agrícolas (EFAs) integrantes da Rede das Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido (Refaisa), parceira na organização.
Ao longo de três dias, jovens de diferentes regiões da Bahia se reuniram para trocar experiências, se aproximar da força e relevância de seus territórios e para renovarem as forças pela luta pelo direito à terra e à educação. A programação do evento foi montada pensado na participação ativa dos estudantes, que colaboram no cerimonial, logística e monitoria dos seus grupos.
A assessora jurídica da AATR, Leila Dandreamatteo, atua no eixo de Educação Jurídica popular e participou da organização do II Encontro com a Juventude Camponesa, diz que a vivência e a construção coletiva enquanto estudantes das EFAs e moradores do campo dá sentindo a toda a mobilização. “Ao longo do evento, todas e todos compartilharam informações, vivências, sobre suas comunidades e escolas, mas principalmente, trocaram o esperançar e o sabor de compartilharem sonhos e perspectivas de construírem algo juntos”. Ela também chamou atenção para uma maior participação da juventude na organização das tarefas. "Estimular a autonomia dos estudantes é um dos princípios da pedagogia da alternância, então esse convite também para que a juventude participasse foi bem aceito e foi realizado com muita confiança entre todas as partes", concluiu.
Colaboração e associativismo
O primeiro dia, sexta-feira (21), contou com uma mesa de abertura com que teve a colaboração de integrantes da AATR, EFA de Valente, Refaisa, Apaeb, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e de representante da Juventude Camponesa. Durante a tarde, aconteceram duas visitas a empreendimentos associativistas do município de Valente. Os participantes do evento puderam conhecer a grandiosidade da fábrica de tapetes e carpetes e itens de decoração de sisal e a fábrica de Laticínio da Cabra, ambas geridas pela da Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (Apaeb).
Crispin Ribeiro, diretor-presidente da Refaisa, é egresso da EFA de Monte Santo e entusiasta do modelo de educação praticado nas escolas. Ele reitera que estimular a mobilização e autonomia das juventudes é uma preocupação cada vez maior nas EFAs e que as temáticas terra, território, e o engajamento em lutas sociais são vistas como prioritárias. "É um momento muito importante e uma possibilidade grande de poder adentrar dentro dos nossos territórios de maneira mais qualificada e estratégico, entrar nossas comunidades, na casa das famílias, trazendo todo mundo para esses debates. A gente acredita que só consegue ter um campo justo, igualitário a partir dessa construção coletiva com essa nossa juventude", apontou.
Autonomia estudantil e oficinas
No sábado (22), os/as jovens participantes do encontro tiveram dois momentos para aperfeiçoamento e aprendizado. Durante a manhã, foram socializados os Projetos Profissionais dos Jovens (PPJs), os quais são pesquisas desenvolvidas como etapa formativa dos cursos das EFAs. Foram 11 projetos apresentados com temáticas que variavam de horticultura ao uso de Ferramentas colaborativas da Google na construção de um sistema para o gerenciamento Estudantil da Escola Família Agrícola do Sertão São Francisco.
Todo o processo de inscrição e apresentação foi autogerenciado pelos/as estudantes e egressos/as. O PPJ de Arão Batista Jesus, monitor da EFA de Ribeira do Pombal, foi sobre apicultura. “Meu projeto foi sobre a expensão da técnica do apiário na minha comunidade, previa a expansão de 10 para 20 caixas. Hoje já estamos comercializando e em trâmites de regularização do mel, para podermos vender ainda mais”, explicou o jovem de 29 anos, que é indígena Kiriri e participou pela primeira vez do encontro.
Para o coordenador geral da AATR e advogado popular, André Nascimento, o II Encontro deixa de legado o fortalecimento de parcerias, bem como o fomento de vínculos entre a juventude que está se prepara para liderar diferentes lutas e integrar coletivos utilizando seus conhecimentos técnicos, tendo a cultura, e a comunicação como liga. "Neste segundo encontro além da participação da Refaisa, tivemos a colaboração de outras lideranças de movimentos da luta por moradia, da zona urbana, de outros segmentos da juventude e também de movimentos, de lideranças e de ativistas que usam a cultura como esse instrumento de resistência, de afirmação de identidade e de educação. Isso fica patente nas apresentações do PPJs e nas oficinas", considerou.
Durante a tarde, foi a vez de aperfeiçoar os talentos nas oficinas de Terra e Território em linguagens artísticas e comunicação popular. Com facilitação de profissionais experientes e com olhar aguçado para provocar ação com direção aos participantes. Entre as oficinas disponíveis teve Comunicação Popular, Fotografia e Registro visual, Trança e Penteados Afros, Colagem Artística, Audiovisual, Pintura e Dança. Já a noite foi dedicada a um momento cultural lúdico com apresentação musical.
Optante pela oficina de Trança e Penteados Afros, a estudante de 17 anos, Milene Raquel dos Santos, diz que passou por dificuldades na infância por não conseguir reconhecer sua imagem e não conseguir admirar suas origens no espelho. “Só com o passar do tempo, depois que entrei na Escola Família Agrícola de Ribeira do Pombal, que vi a minha identidade no cabelo. E ontem foi um momento rico, onde compartilhamos nossas experiências, nossas memórias afetivas com o nosso cabelo. Nosso cabelo é nossa força, é nossa etnia!", refletiu.
No último dia, domingo (23), os participantes tiveram a oportunidade de falar a respeito das atividades propostas no encontro e como elas dialogam com os objetivos das EFAS e os seus projetos de vida, ativismo e necessidades de suas comunidades de origem. Também relataram sobre as oficinas de terra e território com linguagens artísticas e comunicação.
Atenta e forte, a juventude presente no encontro fechou o dia com roda de conversa sobre protagonismo da juventude nas lutas por território e enfrentamento às violências. Para marcar o encerramento do evento, também houve um momento dedicado à avaliação e encaminhamentos.

Segurança em qualquer parte
Os/as participantes do II Encontro com a Juventude Camponesa receberam ainda, em primeira mão, a cartilha Segurança em Qualquer Parte, produzida pela AATR visando informar crianças e adolescentes sobre os seus diretos básicos e noções de como agir e quem recorrer em casos de violências.
Texto: Ascom AATR
Fotos: Aryelle Almeida/Cândido Nobre/Ismael Silva/Rebeca Bastos
Veja a matéria do primeiro Encontro com a Juventude Camponesa.
Comments